quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A IMPORTÂNCIA DO MODELO COSMOLÓGICO ARISTOTÉLICO





Por João Florindo Batista Segundo

 


1 Introdução

O presente trabalho versará sobre a importância do modelo (sistema, esquema) cosmológico de Aristóteles para o entendimento do cosmos e do mundo que nos rodeia.

Considerado por muitos como o pai da Filosofia e também um dos maiores ícones da Ciência Política e da Sociologia na história antiga, suas obras, apesar da antiguidade, foram e são empregados até o presente como supedâneo para estudo do sistema democrático, da organização social e da política.

Todavia, na época em que viveu, a Filosofia não era distinta de outras áreas do saber e sua busca de conhecimento compreendeu também a tentativa de explicar como o Universo se organiza e é sobre essa procura que nos inclinaremos a seguir.


2 A importância do modelo cosmológico aristotélico

Por incrível que possa parecer, o esquema cosmológico vigente por 12 séculos teve por pai Aristóteles (384-322 a.C.), o qual foi complementado por Ptolomeu (90 - 168). Para ele, o nosso planeta situava-se num centro fixo, a partir do qual as distâncias dos planetas e das estrelas eram passíveis de cálculos.

Para entendê-lo, preliminarmente devemos ter em mente que, para Aristóteles, a maneira como as coisas se comportavam se devia às suas naturezas, ou seja, a formas determinadas qualitativamente; e o conjunto destas naturezas formava um conjunto organizado hierarquicamente, ao qual o nome cosmos é a melhor definição.

Isto posto, no esquema aristotélico, a pequena esfera que era a Terra encontrava-se no centro de uma esfera maior, que servia de suporte às estrelas, pelo que ficou conhecido como o Universo de duas esferas. O espaço ocupado pelas estrelas fixas correspondia ao Primeiro Motor, a fonte original de todos os movimentos.

Além desta esfera, havia apenas o vácuo, pois os gregos negavam-se a acreditar que este pudesse ocupar lugar no interior do universo (horror vacui). Igualmente, não se concebia que o cosmos fosse infinito, pois se assim fosse ele não teria centro e para os antigos, claro estava que a Terra era este lugar, além do que, sem centro, não haveria lugar onde os diferentes elementos pudessem se agregar; igualmente, estavam crentes que a existência de um centro era a prova da harmonia universal.

Este esquema possuía características semelhantes com os de Platão e dos astrônomos Eudoxo e Calipo, do século IV a.C., que ensinaram que a Terra ocupava o centro de um cosmos esférico que possuía um certo número de esféricas concêntricas, sendo a das estrelas fixas, a mais externa.

Não sendo parte do céu, ao passo que a Terra permanece fixa, a esfera maior se desloca em seu redor para leste, acreditando os antigos ser isto verdade por afirmarem que se o planeta se deslocasse, arrastaria consigo os pássaros, as nuvens e outros corpos que alçassem voo.

Além do Sol, da Terra e das estrelas, já era do conhecimento dos antigos a existência de outros corpos celestes, pois se deslocavam constante e irregularmente nas órbitas da elíptica como pequenos focos luminosos. Eles recebiam a alcunha de planetas, a saber, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Lembrando que para eles, a Lua também era um planeta, completando assim a relação dos “sete planetas”, cada um dos quais inserido em uma esfera cristalina e por elas transportados.

Todavia, apesar de ser chamado “Universo de Duas Esferas”, havia outras esferas neste sistema: ao redor da Terra esférica e antes das esferas dos planetas havia as correspondentes aos elementos terrestres: água, ar e fogo, em escala ascendente. As esferas cristalinas vinham após a do fogo.

O movimento dos corpos tinha por referencial a Terra, ao passo que a esfera lunar dividia o universo em duas regiões distintas, saber, a terrestre e a celeste. Na primeira, os corpos tinham movimento natural retilíneo em direção a seu lugar natural (teoria aristotélica da gravidade), onde podia ficar em repouso. Neste sentido, o fogo parece leve porque seu lugar natural é o alto, ao passo que a terra apresenta-se pesada porque seu lugar natural é abaixo. Por sua vez, os corpos celestes eram constituídos pela quintessência, incorruptível, dotados de movimento circular uniforme; para corpos de natureza tão transcendental, nada mais adequado que lhes dar os nomes de divindades que povoavam o panteão greco-romano, a exemplo de Marte, Vênus e Júpiter.

Deve-se destacar também que Aristóteles distinguia quatro tipos de movimento:
a)  movimento substancial - mudança de forma, nascimento e morte;
b)  movimento qualitativo - mudança de propriedade;
c)  movimento quantitativo - acrescimento e diminuição; e
d)  movimento espacial - mudança de lugar, o que condiciona os demais tipos de mudança.

A isto, some-se a síntese a seguir, dos princípios fundamentais da física aristotélica (através da qual o cosmos se estrutura), a saber:

a)  lugares naturais: cada elemento preferia um lugar específico no espaço, em relação ao centro do universo, que é a Terra;
b)  gravidade: para alcançar este lugar, os objetos sofreriam a ação de uma força para cima ou para baixo.
c)  movimento retilíneo: vem em resposta a esta força e se dá em linha reta a uma velocidade constante;
d)  relação com densidade e velocidade: a velocidade é inversamente proporcional à densidade do meio;
e)  impossibilidade da existência do vácuo: no vácuo o movimento teria velocidade infinita, logo o vácuo não existe;
f)   o éter preenche o espaço: todos os pontos do espaço são preenchidos pela matéria, que no espaço é cristalina;
g) inexistência do universo infinito (no espaço): muito embora acreditasse que ele fosse infinito no tempo (infinidade na evolução temporal);
h)  teoria do continuum: entre os átomos existe o vácuo, por isso a matéria não poderia ser diminuta, atômica;
i)   quintessência: objetos distantes da superfície terrestre não são constituídos por matéria terrestre;
j)   cosmo incorruptível e eterno: o Sol e os planetas são esferas perfeitas e inalteráveis; e
k)  movimento circular: os planetas descrevem um movimento circular perfeito.

Para os astrônomos da Antiguidade, os planetas se situavam entre a esfera da Terra e a esfera das estrelas. Todavia, o comportamento aparentemente inconstante destes corpos celestes tornou-se um problema para o “Universo de Duas Esferas”.

Tentando explicar-lhes, os astrônomos gregos, dentre outras, conceberam a teoria das esferas homocêntricas e a dos epiciclos e deferentes.

No sistema homocêntrico, cada planeta situava-se no interior de uma esfera concêntrica e regular que se conectava às exteriores, de maneira que o movimento dos planetas resultava de uma rotação simultânea delas.

Todavia, a diferença de brilho dos planetas demonstrava seu afastamento e aproximação periódicas de um observador situado na Terra, o que indicava que esta teoria estava incorreta.

Os epiciclos e deferentes, então, vêm preencher esta lacuna na explicação do cosmos. Segundo esta nova teoria, um círculo gira sobre um ponto de uma circunferência de um outro círculo, sendo o primeiro o epiciclo e o segundo, o deferente. Tal esquema foi absorvido pelo sábio Ptolomeu que apresentou uma explicação completa (à época) do movimento do Sol, da Lua, dos planetas e de outros corpos.

Um esquema bastante simples, que foi empregado com sucesso pela agrimensura e pela navegação. Até Nicolau Copérnico trazer ao público o seu sistema heliocêntrico, foram as ideias de Aristóteles e Ptolomeu que imperaram, com algumas singelas modificações concebidas por astrônomos e cosmólogos.


3 Conclusão

A influência intelectual exercida por Aristóteles sobre o pensamento humano é incomensurável, vez que se dedicou aos mais variados campos das ciências.

Todavia, não se pode deixar de apresentar as lacunas do seu sistema. Sua resposta não ao problema cosmológico não foi a final, mas detém autoridade por ser o princípio a partir do qual ideias mais elaboradas foram desenvolvidas, com o ápice nos seguidores de Copérnico que puseram por terra esta até então coerente visão de uma terra móvel. Tão coerente, que foi aceita pelas religiões ocidentais (em especial a Igreja Católica), por longos períodos.


Referências

CHÂTELET, F. A Filosofia Pagã.  vol. I. In História da Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

CHAUÍ, Marilena de Souza. Introdução à História da Filosofia, vol. I, São Paulo: Brasiliense, 1994.

LEOPOLDO E SILVA, F. Teoria do Conhecimento. In A. M. de Oliveira et al. Tópicos de Filosofia Geral. São Paulo: Brasiliense, 1990.

MASON, S. F. História das Ciências. Porto Alegre: Globo, 1960.

REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.




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