Por Julie Scott, SRC
Quem foi Clemence Isaure?
O nome Clemence significa clemência ou
misericórdia e Isaure significa Ísis de ouro, ou Ísis Dourada. Várias
fontes descrevem Clemence Isaure como uma pessoa real, que viveu no Território
de Oc no final dos anos 1400 e no começo dos anos 1500, cuja beleza e talento
eram raros e inspiradores. Outros dizem que ela era uma personagem fictícia
criada para perpetuar as tradições femininas dos tempos antigos.
De acordo com a
lenda, depois da morte de seu amado trovador, que a enaltecia com as belas
canções e a quem ela adorava, Clemence Isaure fez um voto de castidade e
silêncio. No entanto, antes de fazer isso, ela fez um donativo à cidade de
Toulouse para restaurar os concursos de poesia da Gai Savoir, uma
sociedade poética estabelecida em 1323 por meio de um novo grupo chamado de Jeux
Floraux.
Clemence Isaure
simbolizava a nobre ação, beleza e sabedoria inspiradas pela poesia. Acima de
tudo, ela representava a perpetuação dos antigos mistérios, principalmente
aqueles associados ao feminino e, de forma mais específica, à deusa Isis.
O Misterioso
Território de Oc
Na Idade Média, a
metade sudeste onde agora é a França, partes da Espanha e Mônaco era chamada de
Occitânia ou Território de Oc. Hoje essa região é chamada de Languedoc (o
idioma de Oc) ou L’Occitanie. A vibrante cultura occitana permitiu direitos
iguais para mulheres e homens, incentivando a compreensão e o diálogo entre todas
as fés, proporcionando uma educação excelente para seus cidadãos, e era muito
pacífica e próspera.
Baseando-se nas
tradições místicas mais antigas, as primeiras versões da Cabala surgiram dessa
área no começo do século XII. Os Cátaros, uma seita de místicos cristãos cujas
crenças provavelmente se originaram nas tradições da Antiga Europa e no
maniqueísmo (gnosticismo persa), também viviam em Languedoc e em outras partes
da Europa iniciando no século XI.
Os reis da França do
norte (na época um país separado) e a Igreja Católica Romana queriam a riqueza,
as terras e os convertidos de Languedoc, principalmente os Cátaros para que
essas duas poderosas forças conspirassem contra o povo de Oc, resultando em sua
perseguição e a iminente extinção das tradições occitanas, pelo menos em sua
presença pública nos anos 1200. Cerca de 500.000 pessoas de Languedoc,
incluindo cristãos, judeus e outros místicos, podem ter sido assassinadas
durante a Cruzada Albigense ao longo de 20 anos e, em seguida, a Inquisição que
durou um século.
Os trovadores, que
cantavam no idioma de Oc, encontraram uma forma oculta de perpetuar as
tradições occitanas e suas fontes, os antigos mistérios, através do simbolismo
poético. Enquanto os trovadores pareciam estar cantando sobre o amor de um
homem por uma mulher, na verdade, eles estavam se referindo às leis do amor
universal. Eles estavam expressando a benção da união com o Divino e a paz que
resulta desta comunhão. Um dos símbolos que os trovadores usavam para
representar o desejo interior da alma por essa união mística era a rosa.
A “Gai Savoir” e a
“Jeux Floraux”
Depois de intensa
perseguição na área, em 1323 sete indivíduos em Toulouse, conhecidos como os
sete trovadores, fundaram uma sociedade mística chamada de Gai Savoir,
que significa “feliz conhecimento”. A missão exotérica dessa sociedade era
transformar o mundo em um lugar melhor e mais feliz através da poesia. Embora
oculto, o significado esotérico de suas poesias era claro para aqueles com
olhos para exergá-lo.
Os sete trovadores
colocaram uma carta em circulação para todos os poetas em Languedoc,
convidando-os para apresentar sua poesia em um concurso no mês de maio seguinte
(1324). O painel dos sete juízes escolheu os vencedores, que foram premiados
com a violeta (sua cor simbolizando o grau místico mais elevado), a calêndula
(representando o ouro filosófico), e a rosa silvestre.
A Gai Savoir
operava como uma Ordem, com uma filosofia e regras que eles chamavam de “leis
do amor”. Eles reuniram as antigas tradições místicas que se espalharam ao
longo dos séculos, as preservando e discretamente perpetuando.
Durante as Guerras
Religiosas na França nos anos 1500 (um século de horríveis guerras entre os
Católicos Franceses e os Protestantes Huguenotes) a Gai Savoir
adormeceu. Mais tarde, o grupo reapareceu na forma de Jeux Floraux, com
a descoberta alegórica de uma tumba, da mesma forma que a tumba de Christian
Rosenkreuz foi descoberta e aberta.
A tumba, que foi
descoberta em Toulouse, foi a de Clemence Isaure, a fundadora alegórica de Jeux
Floraux. Flores também foram encontradas nessa tumba, em alusão às
premiações florais concedidas anteriormente pela Gai Savoir. A basílica,
na qual dizem estar localizada a tumba, chamada de La Dourade, se
encontra no local do primeiro Templo dos Visigodos em Gália, um antigo templo à
Minerva (Ísis), que hoje é dedicado à “Virgem Negra” com uma bela estátua dela
olhando a capela principal do alto.
[...]
“Clemence Isaure” – a
Pintura
De 1892 a 1897, sob a
direção de Joséphin Péladan (que tinha fortes laços com a Jeux Floraux e
com a Rose-Croix de Toulouse), a Rose-Croix da França organizava os Salões da
Rose-Croix em Paris. Esses salões, que recebiam milhares de convidados todos os
anos, apresentava música e ritual Rosacruz, assim como arte. O famoso
compositor rosacruz Erik Satie foi nomeado como o diretor musical da Ordem da
Rose-Croix no começo dos anos 1890. Claude Debussy, amigo de Satie e um dos
grandes compositores franceses, também era um Rosacruz.
Os Salões Rosacruzes
exibiam obras de muitos pintores do movimento do Simbolismo, incluindo Henri
Martin de Toulouse, cujas pinturas foram exibidas em 1892. Neste mesmo ano,
Martin foi contratado para criar várias pinturas para o Hall of the
Illustrious no Capitólio de Toulouse.
Ele escolheu como
tema a Jeux Floraux. Uma dessas pinturas é “A Aparição de Clemence
Isaure aos Trovadores”. Nela, Clemence Isaure mostra aos sete trovadores um
pergaminho da Jeux Floraux, que inclui a rosa e a cruz. Ela está
acompanhada de três Musas e da deusa Minerva, a Ísis Egípcia.
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Who Was Clemence Isaure?
The name Clemence
means clemency or mercy, and Isaure means Isis of gold, or Golden Isis.
Several sources describe Clemence Isaure as an actual person, who lived in the
Territory of Oc in the late 1400s and early 1500s, whose beauty and talent were
rare and inspiring. Others say she was a fictional character created to
perpetuate the feminine traditions of earlier times.
According to
legend, following the death of her troubadour love, who praised her through his
beautiful songs and whom she adored, Clemence Isaure took a vow of chastity and
silence. Before doing so, however, she established an endowment for the city of
Toulouse to re-establish the poetry contests of the Gai Savoir, a poetry
society established in 1323, through a new group called the Jeux Floraux.
Clemence Isaure
symbolized noble action, beauty, and wisdom inspired through poetry. Above all,
she represented the perpetuation of the ancient mysteries, especially those
associated with the feminine and particularly with the goddess, Isis.
The Mysterious Territory of Oc
In the Middle
Ages, the southern half of what is now France, parts of Spain, and Monaco were
called Occitania or the Territory of Oc. Today this region is referred to as
the Languedoc (the language of Oc) or L’Occitanie. The vibrant Occitan culture
allowed equal rights for women and men, encouraged understanding and dialogue
between all faiths, provided excellent education for its citizens, and was very
peaceful and prosperous.
Drawing heavily on
older mystical traditions, the first versions of Kabbalah emerged from this
area in the early twelfth century. The Cathars, a sect of Christian mystics
whose beliefs most likely originated from the traditions of Old Europe and
Manichaeism (Persian Gnosticism), also lived in the Languedoc and other parts
of Europe beginning in the eleventh century.
The kings of
northern France (a separate country at the time) and the Roman Catholic Church
wanted the wealth, land, and converts of the Languedoc, especially of the
Cathars, so these two powerful forces plotted against the people of Oc,
resulting in their persecution and the near extinction of the Occitan
traditions, at least their public presence, in the 1200s. As many as 500,000
people of the Languedoc, including Christians, Jews, and other mystics, may
have been murdered during the twenty-year Albigensian Crusade and the
century-long Inquisition that followed.
The troubadours,
who sang in the language of Oc, found a veiled way to perpetuate the Occitan
traditions and their source, the ancient mysteries, through poetic symbolism.
While the troubadours appeared to be singing about the love of a man for a
woman, they were really referring to the laws of spiritual love. They were
expressing the bliss of union with the Divine and the peace that results from
this communion. One of the symbols the troubadours used to represent the inner
desire of the soul for this mystical union was the rose.
The Gai Savoir and Jeux Floraux
Following the
intense persecution in the area, in 1323 seven individuals in Toulouse, known
as the seven troubadours, founded a mystical society called the Gai Savoir,
meaning “happy knowledge.” The exoteric mission of this society was to make the
world a happier and better place through poetry. Though veiled, the esoteric
meaning of their poetry was clear for those with eyes to see.
The seven
troubadours circulated a letter to all the poets in the Languedoc, inviting
them to present their poetry at a contest the following May (1324). The panel
of seven judges chose the winners, who were awarded a violet (its color
symbolic of the highest mystical degree), a marigold (representing the
philosophical gold), and the wild rose.
The Gai Savoir
operated as an Order, with a philosophy and rules that they called “the laws of
love.” They gathered together the ancient mystical traditions that had been
scattered over the centuries, preserved and discreetly perpetuated them.
During the Wars of
Religion in France during the 1500s (a century of horrible wars between the
French Catholics and Protestant Huguenots), the Gai Savoir became dormant. The
group later reappeared in the form of the Jeux Floraux, with the allegorical
discovery of a tomb, similar to the way in which Christian Rosenkreuz’s tomb
was found and opened.
The tomb, which
was discovered in Toulouse, was that of Clemence Isaure, the allegorical
founder of the Jeux Floraux. Flowers were also found in this tomb, alluding to
the floral prizes earlier awarded by the Gai Savoir. The basilica where the
tomb is said to be located, called La Dourade, is on the site of the
first Visigoth temple in Gaul, a previous temple to Minerva (Isis), and today
is dedicated to “the black Madonna,” with a beautiful statue of her overlooking
the main chapel.
[…]
Clemence Isaure – the Painting
From 1892 to 1897
under the direction of Joséphin Péladan (who had strong ties to the Jeux
Floraux and the Rose-Croix of Toulouse), the Rose+Croix of France organized the
Salons of the Rose-Croix in Paris. These salons, which hosted tens of thousands
of guests each year, presented music and Rosicrucian ritual, as well as art.
Well-known composer and Rosicrucian Erik Satie was named the musical director
of the Order of the Rose+Croix in the early 1890s. Claude Debussy, Satie’s
friend and one of France’s greatest composers, was also a Rosicrucian.
The Rosicrucian
Salons exhibited the works of many painters of the Symbolist movement,
including Henri Martin from Toulouse, whose paintings were exhibited in 1892.
That same year Martin was commissioned to create a number of paintings for the
Hall of the Illustrious in Toulouse’s Capitole. He chose as his theme – the
Jeux Floraux.
One of these
paintings is The Appearance of Clemence Isaure to the Troubadors. In it,
Clemence Isaure shows the seven troubadours the charter of the Jeux Floraux,
which includes the rose and the cross. She is accompanied by three Muses and by
the goddess Minerva, the Egyptian Isis.