Por João Florindo Batista Segundo
1
Introdução
O
presente trabalho versará sobre a importância do modelo (sistema, esquema)
cosmológico de Aristóteles para o entendimento do cosmos e do mundo que nos
rodeia.
Considerado
por muitos como o pai da Filosofia e também um dos maiores ícones da Ciência
Política e da Sociologia na história antiga, suas obras, apesar da antiguidade,
foram e são empregados até o presente como supedâneo para estudo do sistema
democrático, da organização social e da política.
Todavia,
na época em que viveu, a Filosofia não era distinta de outras áreas do saber e
sua busca de conhecimento compreendeu também a tentativa de explicar como o
Universo se organiza e é sobre essa procura que nos inclinaremos a seguir.
2
A importância do modelo cosmológico aristotélico
Por
incrível que possa parecer, o esquema cosmológico vigente por 12 séculos teve
por pai Aristóteles (384-322 a.C.), o qual foi complementado por Ptolomeu (90 -
168). Para ele, o nosso planeta situava-se num centro fixo, a partir do qual as
distâncias dos planetas e das estrelas eram passíveis de cálculos.
Para
entendê-lo, preliminarmente devemos ter em mente que, para Aristóteles, a maneira
como as coisas se comportavam se devia às suas naturezas, ou seja, a formas determinadas
qualitativamente; e o conjunto destas naturezas formava um conjunto organizado
hierarquicamente, ao qual o nome cosmos é a melhor definição.
Isto
posto, no esquema aristotélico, a pequena esfera que era a Terra encontrava-se
no centro de uma esfera maior, que servia de suporte às estrelas, pelo que
ficou conhecido como o Universo de duas esferas. O espaço ocupado pelas estrelas
fixas correspondia ao Primeiro Motor, a fonte original de todos os movimentos.
Além
desta esfera, havia apenas o vácuo, pois os gregos negavam-se a acreditar que este
pudesse ocupar lugar no interior do universo (horror vacui). Igualmente, não se
concebia que o cosmos fosse infinito, pois se assim fosse ele não teria centro
e para os antigos, claro estava que a Terra era este lugar, além do que, sem
centro, não haveria lugar onde os diferentes elementos pudessem se agregar;
igualmente, estavam crentes que a existência de um centro era a prova da
harmonia universal.
Este
esquema possuía características semelhantes com os de Platão e dos astrônomos
Eudoxo e Calipo, do século IV a.C., que ensinaram que a Terra ocupava o centro
de um cosmos esférico que possuía um certo número de esféricas concêntricas,
sendo a das estrelas fixas, a mais externa.
Não
sendo parte do céu, ao passo que a Terra permanece fixa, a esfera maior se
desloca em seu redor para leste, acreditando os antigos ser isto verdade por
afirmarem que se o planeta se deslocasse, arrastaria consigo os pássaros, as
nuvens e outros corpos que alçassem voo.
Além
do Sol, da Terra e das estrelas, já era do conhecimento dos antigos a
existência de outros corpos celestes, pois se deslocavam constante e
irregularmente nas órbitas da elíptica como pequenos focos luminosos. Eles recebiam
a alcunha de planetas, a saber, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Lembrando
que para eles, a Lua também era um planeta, completando assim a relação dos
“sete planetas”, cada um dos quais inserido em uma esfera cristalina e por elas
transportados.
Todavia,
apesar de ser chamado “Universo de Duas Esferas”, havia outras esferas neste
sistema: ao redor da Terra esférica e antes das esferas dos planetas havia as
correspondentes aos elementos terrestres: água, ar e fogo, em escala ascendente.
As esferas cristalinas vinham após a do fogo.
O
movimento dos corpos tinha por referencial a Terra, ao passo que a esfera lunar
dividia o universo em duas regiões distintas, saber, a terrestre e a celeste.
Na primeira, os corpos tinham movimento natural retilíneo em direção a seu
lugar natural (teoria aristotélica da gravidade), onde podia ficar em repouso. Neste
sentido, o fogo parece leve porque seu lugar natural é o alto, ao passo que a
terra apresenta-se pesada porque seu lugar natural é abaixo. Por sua vez, os
corpos celestes eram constituídos pela quintessência, incorruptível, dotados de
movimento circular uniforme; para corpos de natureza tão transcendental, nada
mais adequado que lhes dar os nomes de divindades que povoavam o panteão
greco-romano, a exemplo de Marte, Vênus e Júpiter.
Deve-se
destacar também que Aristóteles distinguia quatro tipos de movimento:
a)
movimento
substancial - mudança de forma, nascimento e morte;
b)
movimento
qualitativo - mudança de propriedade;
c)
movimento
quantitativo - acrescimento e diminuição; e
d)
movimento
espacial - mudança de lugar, o que condiciona os demais tipos de mudança.
A
isto, some-se a síntese a seguir, dos princípios fundamentais da física
aristotélica (através da qual o cosmos se estrutura), a saber:
a)
lugares
naturais: cada elemento preferia um lugar específico no espaço, em relação ao
centro do universo, que é a Terra;
b)
gravidade:
para alcançar este lugar, os objetos sofreriam a ação de uma força para cima ou
para baixo.
c)
movimento
retilíneo: vem em resposta a esta força e se dá em linha reta a uma velocidade
constante;
d)
relação
com densidade e velocidade: a velocidade é inversamente proporcional à
densidade do meio;
e)
impossibilidade
da existência do vácuo: no vácuo o movimento teria velocidade infinita, logo o
vácuo não existe;
f)
o
éter preenche o espaço: todos os pontos do espaço são preenchidos pela matéria,
que no espaço é cristalina;
g)
inexistência
do universo infinito (no espaço): muito embora acreditasse que ele fosse
infinito no tempo (infinidade na evolução temporal);
h)
teoria
do continuum: entre os átomos existe o vácuo, por isso a matéria não poderia
ser diminuta, atômica;
i)
quintessência:
objetos distantes da superfície terrestre não são constituídos por matéria terrestre;
j)
cosmo
incorruptível e eterno: o Sol e os planetas são esferas perfeitas e
inalteráveis; e
k)
movimento
circular: os planetas descrevem um movimento circular perfeito.
Para
os astrônomos da Antiguidade, os planetas se situavam entre a esfera da Terra e
a esfera das estrelas. Todavia, o comportamento aparentemente inconstante
destes corpos celestes tornou-se um problema para o “Universo de Duas Esferas”.
Tentando
explicar-lhes, os astrônomos gregos, dentre outras, conceberam a teoria das
esferas homocêntricas e a dos epiciclos e deferentes.
No
sistema homocêntrico, cada planeta situava-se no interior de uma esfera
concêntrica e regular que se conectava às exteriores, de maneira que o
movimento dos planetas resultava de uma rotação simultânea delas.
Todavia,
a diferença de brilho dos planetas demonstrava seu afastamento e aproximação
periódicas de um observador situado na Terra, o que indicava que esta teoria
estava incorreta.
Os
epiciclos e deferentes, então, vêm preencher esta lacuna na explicação do
cosmos. Segundo esta nova teoria, um círculo gira sobre um ponto de uma
circunferência de um outro círculo, sendo o primeiro o epiciclo e o segundo, o
deferente. Tal esquema foi absorvido pelo sábio Ptolomeu que apresentou uma
explicação completa (à época) do movimento do Sol, da Lua, dos planetas e de
outros corpos.
Um
esquema bastante simples, que foi empregado com sucesso pela agrimensura e pela
navegação. Até Nicolau Copérnico trazer ao público o seu sistema heliocêntrico,
foram as ideias de Aristóteles e Ptolomeu que imperaram, com algumas singelas
modificações concebidas por astrônomos e cosmólogos.
3
Conclusão
A
influência intelectual exercida por Aristóteles sobre o pensamento humano é
incomensurável, vez que se dedicou aos mais variados campos das ciências.
Todavia,
não se pode deixar de apresentar as lacunas do seu sistema. Sua resposta não ao
problema cosmológico não foi a final, mas detém autoridade por ser o princípio
a partir do qual ideias mais elaboradas foram desenvolvidas, com o ápice nos
seguidores de Copérnico que puseram por terra esta até então coerente visão de
uma terra móvel. Tão coerente, que foi aceita pelas religiões ocidentais (em
especial a Igreja Católica), por longos períodos.
Referências
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Janeiro: Zahar, 1973.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Introdução à História da Filosofia, vol.
I, São Paulo: Brasiliense, 1994.
LEOPOLDO E SILVA, F. Teoria do Conhecimento. In A. M. de
Oliveira et al. Tópicos de Filosofia Geral. São Paulo: Brasiliense, 1990.
MASON, S. F. História das Ciências. Porto Alegre:
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REALE, Giovani; ANTISERI,
Dario. História da filosofia:
Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.