terça-feira, 7 de janeiro de 2025

AS DISPUTAS - 3

 
 

A PUREZA – SUTHATTHAKA SUTTA

 

“Vejo um homem puro e perfeito, sua pureza é, sem dúvida, fruto das idéias filosóficas que possui”. Quem assim raciocina pensa que essas idéias representam o que há de melhor e acredita que se possa inferir o conhecimento pelas qualidades manifestadas pelos que o possuem.

Se alguém pudesse tornar-se puro simplesmente mudando de conceitos, e se pudesse libertar-se da tristeza e da aflição apenas pelo conhecimento, isto significaria, então, que alguma outra coisa, além da Nobre Senda de Buda, teria o poder de purificar o homem e pôr termo ao seu infortúnio. Não é isto, porém, o que os próprios conceitos estão a demonstrar.

Nenhum brâmane autêntico acredita que possa ser purificado por outra pessoa, mostrando-se, por isso mesmo, indiferente ao que vê e ao que ouve, à virtude convencional, às vitórias pessoais, indiferente ainda aos dogmas pessoais e a tudo, enfim, que se convencionou chamar bom e mau. Ele se mostra igualmente livre tanto da ambição de vitórias, quanto da vitória já alcançada.

O homem, diante de uma coisa, logo em seguida se apega a outra, mas, a despeito das numerosas mudanças que realize, não consegue encontrar paz. Ele não é melhor que um macaco que vive a saltar de galho em galho.

São os sentidos que levam o homem a escravizar-se a uma organização. O sábio, porém, independendo dos sentidos, por já conhecer os ensinamentos – dhama – , nunca mais há de se tornar escravo de organização alguma.

Quando o homem já não mais depende do que vê e do que ouve e passa a confiar integral e exclusivamente em sua intuição, suas novas opiniões já não mais se modificarão; nada o impelirá a mudar.

Ele não estabelece leis, nem faz regras, como também não se apresenta como modelo de algum ideal, pois é completamente desapegado de tudo.

Ele não se apega mais a coisa alguma do mundo.

O brâmane liberto já transcendeu as paixões e não se deixa mais afetar por elas. Para ele, não há mais norma, nem lei, nem coisa alguma existe que ele possa chamar de norma, e nada ainda que possa chamar lei.

  

REFERÊNCIA: 
BUDA. Dhammapada – caminho da lei; Atthaka – o livro das oitavas. Doutrina budista ortodoxa em versos. Tradução, adaptação, prefácio e notas do Dr. Georges da Silva. 7. ed. São Paulo: Pensamento, 2004. p. 69-70.

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