sexta-feira, 4 de outubro de 2024

VERDADEIRO EPOPTA

 


Por Emil Cioran

 

Toda experiência capital é nefasta: as camadas da existência carecem de espessura; quem as escava, arqueólogo do coração e do ser, encontra-se, ao cabo de suas investigações, ante profundidades vazias. Em vão terá saudades do ornamento das aparências.

Eis por que os Mistérios antigos, pretensas revelações dos segredos últimos, não nos legaram nada em matéria de conhecimento. Sem dúvida, os iniciados estavam obrigados a não transmitir nada. No entanto, é inconcebível que em tão grande número não se tenha encontrado um só tagarela; o que há de mais contrário à natureza humana que tal obstinação no segredo? O que acontece é que não havia segredos; havia ritos e estremecimentos. Uma vez afastados os véus, o que podiam descobrir senão abismos sem importância? Só há iniciação ao nada  e ao ridículo de estar vivo.

... E eu sonho com uma Elêusis de corações desiludidos, com um Mistério claro, sem deuses e sem as veemências da ilusão.

 

REFERÊNCIA:
CIORAN, E. M. Breviário da decomposição. Tradução de José Thomaz Brum.  Rio de Janeiro: Rocco, 1995. p. 20-21.

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