Toda
experiência capital é nefasta: as camadas da existência carecem de espessura;
quem as escava, arqueólogo do coração e do ser, encontra-se, ao cabo de suas
investigações, ante profundidades vazias. Em vão terá saudades do ornamento das
aparências.
Eis
por que os Mistérios antigos, pretensas revelações dos segredos últimos, não
nos legaram nada em matéria de conhecimento. Sem dúvida, os iniciados estavam
obrigados a não transmitir nada. No entanto, é inconcebível que em tão grande
número não se tenha encontrado um só tagarela; o que há de mais contrário à
natureza humana que tal obstinação no segredo? O que acontece é que não havia segredos;
havia ritos e estremecimentos. Uma vez afastados os véus, o que podiam
descobrir senão abismos sem importância? Só há iniciação ao nada – e ao ridículo
de estar vivo.
... E
eu sonho com uma Elêusis de corações desiludidos, com um Mistério claro, sem deuses
e sem as veemências da ilusão.
CIORAN, E. M. Breviário da decomposição. Tradução de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. p. 20-21.
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