“Busquei em mim mesmo meu próprio modelo. Para imitá-lo, dediquei-me à dialética da indolência. É tão mais agradável fracassar na vida...”
Cioran, em Silogismos da Amargura
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“Devemos desconfiar do saber que temos acerca de nós próprios. O conhecimento que de nós temos indispõe e paralisa o nosso demônio. É aí que deve ser procurada a razão pela qual Sócrates nada escreveu.”
Emil Cioran, em Do inconveniente de ter nascido
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“A sociedade é um sistema, um corpo de invejas. Não é fácil saber quem nos inveja. Em princípio, somos invejados sempre que fazemos algo que outro, conhecido ou amigo, gostaria de realizar. Um estranho não nos inveja ou raras vezes; a condição essencial para a inveja é que conheçam nossa cara. Por isso, aquele que não se mostra, aquele que se esconde, não é objeto desse sentimento eminentemente natural e baixo.”
Cioran, em Cadernos (1957–1972)
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“Aqueles que usam a linguagem da utopia me resultam mais estranhos que um réptil pré-histórico.”
Cioran, em Esquartejamento, 1983
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“Não só levo uma vida marginal, mas também sou marginal como pessoa.
Vivo na periferia da espécie e não sei com quem nem a que me afiliar.”
Cioran, em Cadernos (1957–1972)
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“Kant esperou até a velhice para dar-se conta dos lados sombrios da existência e assinalar ‘o fracasso de toda a teodiceia racional’”.
“... Outros, mais afortunados, se deram conta disso antes mesmo de começarem a filosofar”.
Cioran, em Confissões e Anátemas
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“Quando penso em minhas noites, em tantas solidões e tantos suplícios nessas solidões, sonho em partir, abandonando os caminhos trilhados. Mas, para onde ir? Existem fora de nós abismos comparáveis aos da alma.”
Cioran, em Lágrimas e Santos
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“Quanto mais difuso é o objeto de uma paixão, mais ela nos destrói; a minha foi o Tédio: sucumbi à sua imprecisão.”
Cioran, em Silogismos da Amargura
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“Neste exato momento, em todos os lugares, milhares e milhares estão prestes a expirar, enquanto eu, agarrando-me a minha caneta-tinteiro, busco em vão uma palavra para comentar sua agonia.”
Cioran, em O Funesto Demiurgo, 1969
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“25 de novembro
Apenas uma coisa conta: seguir nossa natureza, fazer o que estamos destinados a fazer, não ser indignos de nós mesmos.
Toda a minha vida, por medo de me trair, tenho rejeitado todas as oportunidades que me foram oferecidas. Por isso, minha primeira reação ante o êxito é a de retroceder.”
Cioran, em Cadernos (1957–1972)
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“Eu só tenho a impressão de ser eficaz, de fazer algo positivo, quando me deito para me interrogar indefinidamente e sem um objeto.”
Cioran, em Esquartejamento, 1983
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“Que alguns busquem em mim consolo e apoio é uma das coisas que mais me desconcertam. Incapaz de resolver nenhum de meus problemas, vejo-me obrigado a encontrar uma solução para os dos outros.”
Cioran, em Cadernos (1957–1972)
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“Há, claro, amor, e sempre me perguntei: quando descobrimos tudo, quando nosso olhar penetra tudo, como ainda podemos nos encantar por qualquer coisa? No entanto, tal coisa acontece. É isto o que na vida é real e interessante. Podemos duvidar de absolutamente tudo, declarar-nos niilistas e ainda nos apaixonarmos como o maior tolo. Essa impossibilidade teórica da paixão, e que a vida real constantemente evita, torna a vida um encanto incontestável e irresistível. Nós sofremos, rimos de nossos sofrimentos, e essa contradição fundamental finalmente pode ser o que faz a vida ainda valer a pena.”
Emil Cioran. Documentário Emil Cioran: a Century of Writers (1999)
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“Depois de tantos anos, depois de uma vida, eu a vi novamente. ‘Por que choras?’, Perguntei-lhe em primeiro lugar.
“‘Eu não choro’, me respondeu. E de fato ela não estava chorando, estava sorrindo, mas tendo a idade deformado as feições, a alegria não podia mais acessar seu rosto, em que eu poderia ter lido: ‘Quem não morrera jovem, arrepender-se-á mais cedo ou mais tarde’.”
Emil Cioran, em Esse maldito eu
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“As lágrimas são o critério da verdade no mundo dos sentimentos. As lágrimas e não os prantos. Existe uma disposição para as lágrimas que se expressa mediante uma avalanche interior. Há iniciados em matéria de lágrimas que nunca choraram realmente.”
Emil Cioran, em Lágrimas e Santos
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“É fácil ser “profundo; basta deixar-se invadir por suas próprias taras.”
Emil Cioran, em Silogismos da Amargura
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“Só é saudável em nós aquilo pelo que não somos especificamente nós mesmos: são nossas aversões que nos individualizam; nossas tristezas que nos concedem um nome; nossas perdas que nos fazem possuidores de nosso eu. Só somos nós mesmos pela soma de nossos fracassos.”
Emil Cioran, em Breviário de Decomposição
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“Quão importante pode ser que eu sofra e pense? Minha presença neste mundo perturbará algumas vidas tranquilas e desestabilizará a inconsciente e agradável ingenuidade dos outros. Embora eu sinta que a minha tragédia é a maior da história - maior do que a queda dos impérios -, estou ciente da minha total insignificância. Estou absolutamente convencido de que não sou nada nesse universo; ainda sinto que a minha é a única existência real.”
Emile M. Cioran, em Nos cumes do desespero
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“Dir-se-ia que a matéria, ciumenta da vida, se dedica a espioná-la para encontrar seus pontos fracos e puni-la por suas iniciativas e suas traições. Pois a vida não é vida, não mais que por infidelidade à matéria.”
Emil Cioran, em Esse maldito eu
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“Nada prova melhor até que ponto a humanidade se encontra em regressão do que a impossibilidade de encontrar um único povo, uma única tribo, em que o nascimento ainda provoque luto e lamentações.”
Emil Cioran, em Do Inconveniente de ter Nascido
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“Não entendo como os homens podem crer em Deus, embora pense todos os dias nele.”
Emil Cioran, em O Livro das Ilusões
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“Eu não sou ateu, ainda que não creia em Deus e não reze. Mas há em mim uma dimensão religiosa indefinível, para além de toda fé. O crente se identifica com Deus, o que pode compreender, mas eu mesmo me sinto distante de tudo isso. Eu me movo na linha divisória.”
Emil Cioran, em A filosofia irritada (última entrevista de Cioran)
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“Os ateus [...] demonstram claramente estarem sempre perseguindo alguém. Deveriam ser menos orgulhosos; a sua emancipação é menos completa do que pensam: têm Deus na mesma ideia de quem crê.” - O Funesto Demiurgo - Cioran”Sendo homem um animal enfermo, qualquer de suas palavras ou gestos equivale a um sintoma.”
Emil Cioran, em Esse maldito eu
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“Não sei o que é bom e o que é ruim; o que é permitido e o que não é permitido; não posso condenar nem louvar. Não existe neste mundo nenhum critério válido e nenhum princípio consistente. Espanta-me o fato de haver gente que ainda se preocupa com a teoria do conhecimento. Para ser sincero, confessaria que pouco me importa a relatividade de nosso conhecimento, pois este mundo não merece ser conhecido.”
Emil Cioran em Nos cumes do desespero
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“Não existe motivo algum para não estar triste. A tristeza está tão ligada à natureza, que ela precede o homem. Não sei se no princípio era a tristeza e se a tristeza provinha de Deus, mas o que sei é que deve ter aparecido nos primeiros dias da criação, antes das criaturas. O homem não podia mais evitar a tristeza e, por isso, ao longo dos tempos, não encontrou maneira alguma de não estar triste.”
Emil Cioran, em O Livro das Ilusões
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“Os homens ainda não entenderam que o tempo das admirações superficiais passou, e que um grito de desespero é bem mais revelador do que a mais sutil das argúcias; que uma lágrima tem sempre fontes mais profundas do que um sorriso. Por que nos recusamos a aceitar o valor exclusivo das vivas verdades, estas que são originárias de nós mesmos? Somente compreendemos a morte experimentando a vida como uma agonia prolongada, um todo em que a vida e morte misturam-se completamente.”
Emil Cioran, em Nos Cumes do Desespero
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“- Em que se ocupa de manhã à noite?
“- Tolero-me.”
Emil Cioran, em Do inconveniente de ter nascido
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“A liberdade é, para mim, o direito de ser herético. Eu não poderia viver num estado no qual vigora uma filosofia oficial; porque sou, por temperamento, um herético, e por isso mesmo um apóstata. A liberdade representa para mim não apenas a possibilidade de pensar diferentemente em relação aos outros, mas também de viver as próprias contradições, com desenvoltura. Onde não há liberdade é melhor ocultar as próprias contradições íntimas, e isso não é bom para o equilíbrio de uma pessoa. Se preferir, a liberdade é, para mim, simplesmente, a única forma de salvação.”
Emil Cioran, em entrevista a Leonhard Reinisch, 1974.
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“Em um mundo sem melancolia, os rouxinóis se poriam a cuspir e os lírios abririam um bordel.”
Emil Cioran, em Amurgul gândurilor
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“A ‘experiência homem’ fracassou? Já havia fracassado com Adão. Entretanto, é legítimo perguntar: teremos bastante imaginação para parecer ainda inovadores, para agravar tal fracasso?
“Enquanto esperamos, perseveremos no erro de ser homens, comportemo-nos como farsantes da Queda, sejamos terrivelmente frívolos!”
Emil Cioran, em Silogismos da amargura
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“Deveríamos repetir a nós próprios todos os dias: Sou um daqueles que, entre milhares, se arrastam pela superfície do globo. Essa banalidade justifica qualquer conclusão, qualquer comportamento ou acto: deboche, castidade, suicídio, trabalho, crime, preguiça ou rebelião.
“... E daí se conclui que todos nós temos razão em fazer o que fazemos.”
Emil Cioran, em Do inconveniente de ter nascido
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“O odor da criatura nos põe na lista de uma divindade fétida”
Emil Cioran
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“Estou descontente de tudo. Mesmo se fosse eleito Deus, apresentaria dentro em logo minha demissão; se o mundo se reduzisse em mim, se o mundo inteiro fosse eu, quebrar-me-ia em mil pedaços e voaria em cacos. Como posso ainda conhecer momentos em que eu tenha a impressão de tudo compreender?”
Emil Cioran, em Nos Cumes do Desespero
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“As minhas doenças estragaram-me a existência, mas é graças a elas que eu existo, que me convenço de que existo.”
Emil Cioran, em Do inconveniente de ter nascido
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“Desde que Schopenhauer teve a ideia disparatada de introduzir a sexualidade na metafísica, e Freud a de substituir o equívoco picante por uma pseudociência de nossos transtornos, é admissível que qualquer um nos fale da 'significação' de duas proezas, de sua timidez e de seus êxitos. Assim começam todas as confidências e acabam todas as conversas. Dentro em pouco nossas relações com os outros se reduzirão ao registro de seus orgasmos efetivos ou inventados... É o destino de nossa raça, devastada pela introspecção e pela anemia: reproduzir-se através da palavra, ostentar suas noites, exagerar seus desfalecimentos e seus triunfos.”
Emil Cioran; Vitalidade do amor, em Silogismos da amargura
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“Vivi sempre com a consciência da impossibilidade de viver. E o que me tornou a existência suportável foi a curiosidade de ver como é que eu ia passar de um minuto, de um dia, de um ano ao outro.”
Emil Cioran, em Do Inconveniente de Ter Nascido
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“O sofrimento é a única causa da consciência” (Dostoiévski). Os homens são divididos em duas categorias: aqueles que entenderam isso e os outros.”
Emil Cioran, em Lágrimas e Santos
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“Sou tomado por uma desesperança mortal ao pensar na horrenda miséria do homem, em sua podridão, em sua gangrena.”
Emil Cioran
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“A miséria objetiva da vida social não passa de um pálido reflexo de sua infinita miséria interior.”
Emil Cioran
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“Nem suficientemente desgraçado para ser um poeta... nem suficientemente indiferente para ser um Filósofo, sou apenas lúcido, mas é o bastante para estar condenado.”
Emil Cioran, em Lágrimas e Santos
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“Existe maior renúncia do que a fé? É verdade que sem ela nos embrenhamos em uma infinidade de becos sem saída. Mas mesmo sabendo que nada pode levar a nada, que o universo é apenas um subproduto de nossa tristeza, por que sacrificaríamos este prazer de tropeçar e esmagar a cabeça contra a terra e o céu? As soluções que nos propõe nossa covardia ancestral são as piores deserções ao nosso dever de decência intelectual. Equivocar-se, viver e morrer enganados, isto é o que fazem os homens. Mas existe uma dignidade que nos preserva de desaparecer em Deus e que transforma todos os nossos instantes em orações que não faremos jamais.”
Emil Cioran, em Breviário da Decomposição
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“Quando todos nós tivermos compreendido que o nascimento é uma derrota, a existência, finalmente suportável, surgirá como o dia que se segue a uma capitulação, como o consolo e o descanso do vencido.”
Emil Cioran, em Do inconveniente de ter nascido
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“Sem a faculdade de esquecer, o nosso passado pesaria de tal maneira sobre o nosso presente que não teríamos forças para abordar nem mais um único instante, e muito menos para entrar nele. A vida só parece suportável às naturezas superficiais, a essas que, justamente, não se lembram.”
Emil Cioran, em Do Inconveniente de ter nascido
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“Muito antes da física e da psicologia nascerem, a dor desintegrava a matéria e a angústia, a alma”
Emil Cioran
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“O futuro humano se estende entre dois polos: o pastoralismo e o paradoxo. A cultura é um somatório de inutilidades: o culto da nuance, a delicada cumplicidade com o erro, o jogo sutil e fatal com a abstração, o tédio, o enleio da dissolução. O resto é agricultura.”
Emil Cioran, em Sobre a França
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“Ninguém alguma vez se persuadiu tanto como eu da futilidade de tudo, tal como ninguém terá tomado como trágicas tantas coisas fúteis.”
Emil Cioran, em Do inconveniente de ter nascido
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“Lucidez: martírio permanente, inimaginável proeza.”
Emil Cioran, em Esse maldito eu
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“A minha visão do futuro é tão precisa que, se tivesse filhos, os estrangulava agora mesmo.”
Emil Cioran, em Do inconveniente de ter nascido
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“Quando se aprende a beber nas fontes do Vazio, deixa-se de temer o futuro. O Tédio opera prodígios: converte a vacuidade em substância; é ele próprio vazio nutritivo.”
Emil Cioran, em Silogismos da Amargura