terça-feira, 27 de julho de 2021

NÃO BASTA ABRIR A JANELA

 

 

Não basta abrir a janela


Por Alberto Caeiro

 

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
 

4-1923

 

“Poemas Inconjuntos”. In: Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor). 10 ed. Lisboa: Ática, 1993. p. 75.

1ª publicação em: “Poemas Inconjuntos”. In: Athena, n. 5. Lisboa: fev. 1925.