Não basta abrir a janela
Por Alberto Caeiro
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia
nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há
ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o
mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a
janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se
abre a janela.
4-1923
“Poemas Inconjuntos”. In: Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor). 10 ed. Lisboa: Ática, 1993. p. 75.
1ª
publicação em: “Poemas Inconjuntos”. In:
Athena, n. 5. Lisboa: fev. 1925.