terça-feira, 29 de dezembro de 2020

EMOÇÃO VERSUS RAZÃO: A (IR)RACIONALIDADE DAS EMOÇÕES EM LAVOURA ARCAICA

 

Eugênia Ribeiro Teles

Universidade Estadual da Paraíba

 

Palavras-chave: Filosofia das emoções, Emoção, Razão, Lavoura Arcaica

 

RESUMO

Em Lavoura Arcaica, Raduan Nassar escreve uma história fecundada pela semeadura de emoções rebeldes, densas e contundentes que abalam as estruturas da racionalidade. Em várias passagens, percebe-se uma alusão ao embate entre emoção e razão. Diante disso, o objetivo deste artigo é defender que, apesar de aparentemente irracionais, as emoções podem apresentar racionalidade própria, à medida que são corretas e justificadas em algumas situações encontradas na narrativa. Para tanto, utiliza-se como aparato hermenêutico algumas teorias desenvolvidas na área da filosofia das emoções.


Texto completo no link abaixo:


UMA INTRODUÇÃO ÀS NOVAS EXPRESSÕES RELIGIOSAS

 


Por João Florindo Batista Segundo e Carlos André Macêdo Cavalcanti

 

Resumo

Este artigo apresenta os conceitos fundamentais sobre as Novas Expressões Religiosas (NER), incluindo uma síntese de seus aspectos históricos, a busca da nomenclatura mais apropriada para definir esse relevante objeto de estudo das Ciências das Religiões, além de contextualizar as principais categorias de NER no panorama atual do Brasil. Espera-se assim auxiliar os pesquisadores iniciantes e outros interessados no tema, indicando-lhes a terminologia empregada pelas Ciências das Religiões e algumas das principais fontes de consulta para aprofundamento.

 

Palavras-chaves: Novas Expressões Religiosas; Seita; Nova Era; Neopentecostalismo; Espiritualidade.

 

Abstract

An introduction to New Religious Expressions. This paper introduces the fundamental concepts about New Religious Expressions (NRE), including a synthesis of its historical aspects, the search for the most appropriate nomenclature to define this relevant object of study in the Science of Religion, besides contextualizing the main categories of NRE in the Brazilian current perspective. Thus, the purpose is to assist the beginners in this field of research and those interested in the topic to distinguish the terminology used by the Science of Religion and some of the main sources of consultation for further research.

 

Keywords: New Religious Expressions; Sect; New Age Religions; Neopentecostalism; Spirituality.


BATISTA SEGUNDO, João Florindo; CAVALCANTI, Carlos André Macêdo. Uma introdução às Novas Expressões Religiosas. In: REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE, v. 7, p. 1115-1125, 2020. Disponível em: http://revista.ecogestaobrasil.net/v7n17/v07n17a05a.html. 


Texto completo no link abaixo:

http://revista.ecogestaobrasil.net/v7n17/v07n17a05a.html


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A RODA DA VIDA E OS 12 NIDANAS

 

 

 Por Judith Simmer Brown

Tradução e adaptação de Tenzin Namdrol

 

Os 12 nidanas, ou elos representam uma parte de um artifício pedagógico criado pelo Buda para que seus discípulos aprofundassem a compreensão de origem interdependente. Segundo a tradição, o Buda desenvolveu a iconografia representando os 12 nidanas como sendo o arco exterior de uma roda de três aros concêntricos, cada qual representando uma dimensão detalhada do ensinamento do Buda sobre Causa e Efeito. A roda é conhecida como a Roda da Vida. Contemplando o seu simbolismo, o praticante pode vir a compreender as causas e os resultados dos pensamentos, das motivações e das ações, renunciando às que conduzem ao sofrimento e se voltando para as que conduzem ao despertar.

No centro da roda giram três animais, cada um mordendo a cauda do precedente. Representam as três emoções tóxicas primárias a partir das quais surge o sofrimento: o galo representa a paixão; a cobra, a agressão, o porco a delusão. O segundo círculo está dividido em seis segmentos que mostram os estados mentais por que passam os seres, chamados os seis reinos. Vão desde os reinos gozosos da ignorância (e do orgulho NT) aos reinos da raiva e da guerra. Psicologicamente falando, estes reinos são padrões enrustidos de pensamento e emoções que experimentamos quando a mente é tomada de assalto por eles e se perpetuam por si mesmos. O círculo externo é uma representação em seqüência dos 12 nidanas, ou 12 elos interdependentes, considerados a chave para a compreensão do surgimento recorrente de causa e efeito no ciclo da existência.

Os 12 elos da cadeia operam em permanência e de forma interdependente durante qualquer experiência, mas é através do seu aspecto seqüencial que o praticante tem uma visão profunda do ciclo recorrente do "vir-a-ser" fenomênico que ilustram. Vamos descrever os 12 elos para mais adiante examinar a interdependência da sua natureza.


Ignorância (avidya)

O primeiro elo se chama avidya, ou ignorância, e se refere à ignorância primordial profundamente enrustida que conduz às nossas confusas percepções de mundo. Está representada por uma avó cega e trôpega, com um bastão na mão, descendo uma escarpa pedregosa. Está cega para os padrões recorrentes de comportamento, mas também para filhos e netos; contudo, trôpega, segue em frente. Sua cegueira não é necessariamente passiva, é a recusa obstinada de olhar para a dificuldade em ter de preservar a noção fixa num eu sólido e contínuo e o apego que tem à noção deste ego. Na visão búdica, este tipo de ignorância é o oposto da sabedoria.


Formações (samskara)

É a tendência da ignorância de se aglutinar em atividade e resultado, também bem enrustida em nós! Pode ser entendida como a velocidade dos padrões recorrentes. Está representada pelo oleiro na sua roda. O que se inicia como um bocado de barro (ignorância) está se fazendo e se refazendo constantemente sempre retomando formas. A inércia da roda do oleiro leva o barro a ser transformado em vaso, assim como as formações estão continuamente transformando nossa ignorância em forma.

Os elos 1 e 2 são fenômenos passados, que preparam a cena para a atividade dos demais nidanas. São os precursores dos nossos sofrimentos neuróticos e operam no pano de fundo do nosso entorno, além da nossa conscientização imediata.

 

Consciência (vijnana)

Este elo começa a mostrar a forma específica criada pela ignorância e pela velocidade. Está representado por um macaco ágil que sobe uma trepadeira para colher um fruto suculento. A consciência é o aspecto reflexivo da experiência que reconhece e cria o sentido de continuidade. Pode ser observada como a mente que se empenha numa exploração auto referente e que atarefada trata de reunir os componentes do que denominamos ego.


Nome e Forma (nama-rupa)

Confirmam a identidade pessoal com o acréscimo do nome e da forma. Iconograficamente falando, um barco com vários passageiros, conduzidos por um barqueiro. Os passageiros são emotivos e tagarelas, características da experiência humana transportada pela consciência. Associados à consciência completam o agregado que chamamos o indivíduo.


Seis Sentidos (sad-ayatana)

Os seis sentidos, representados por uma casa com seis janelas. Agora que os rudimentos da identidade individual estão presentes, são criados as avenidas de relacionamento com o "outro" na forma dos cinco sentidos, aos que se somará o skanda mental. O ego se debruça sobre o seu mundo através da percepção numa tentativa de confirmar a sua existência. Neste ponto a percepção ainda não está agindo; mas os tentáculos já se estendem para estabelecer a relação. O próximo elo confirma o estabelecimento da percepção.


Contacto (sparsa)

O "outro" inclui qualquer fenômeno experimentado e conhecido em perpetuidade. O contacto é ilustrado por um casal que se abraça. Aqui as faculdades sensoriais e a mente estabelecem contacto com os objetos e dá início à relação.


Sensação (vedana)

Assinala a resposta da relação que ficou estabelecida. Aqui a experiência do prazer ou da dor surge como uma centelha inicial. Representada como uma seta atingindo o olho, vemos como é forte o sentimento básico de qualquer sensação. Sentimos tão intensamente todos os aspectos da nossa relação com o mundo que tanto a confirmação quanto a falta de confirmação nos afeta. Esta intensidade nos faz bater em retirada e retomamos os nossos padrões recorrentes e dando azo ao surgimento de situações dolorosas.

Segundo o Buda, dos elos 3 a 7 representam a solidificação do ego e suas tentativas de estabelecer novos territórios. Acontecem de forma tão rápida e interdependente que se torna difícil observar suas funções isoladas e, juntas, constroem o cenário para a etapa seguinte dos elos.


Desejo (trsna)

Representado como um gordo se empanturrando com um refresco de leite e mel. Demonstra descaso, a tendência de agir sob o efeito das sensações expostas no elo precedente mesmo se a ação é, em última análise, destrutiva. Do ponto de vista budista, é considerado destrutivo reagir por impulso às nossas exigências autocentradas. Apesar disto, devoramos o refresco o que faz lembrar os hábitos da avó do primeiro elo.

 

Apego (upadana)

Expande a impulsividade do elo número oito numa forte emoção, e trata de um estado de desejo intensificado. Aqui o homem sobe a árvore carregada de fruta, come com voracidade e ainda colhe mais frutos para levar. O refresco foi apenas um tira gosto. A emoção atingiu o seu ponto alto e a indulgência é plena e visível. O apego não é apenas sensual, também é intelectual e estético; está enraizado no egocentrismo.


Existência (bhava)

Uma impulsividade crescente nos transporta para o nidana da existência. Aqui a emoção se expressa em ação, fazendo com que nossa tendência para a cegueira seja convertida em forma. Está representada como uma mulher grávida prestes a dar a luz, expressão do carma plenamente amaduro, conseqüência concreta e inevitável do desejo e do apego que, reforçando nossas tendências pretéritas, leva à fixação do ego e a perpetuação da dor.


11 e 12. Nascimento, Velhice e Morte (jati jaramarana)

Os dois últimos nidanas resumem toda e dolorosa existência autocentrada. Onze, o nascimento está representado por uma mulher dando à luz e doze, velhice e morte. Nossas emoções e atividades presentes criam novas situações que amadurecem, reproduzem e morrem. A morte provoca grande incerteza e pânico diante da possibilidade de se perder o sentido de solidez que temos da existência. Este processo se refere ao ponto mais elevado e à morte de um estado emocional específico, como a luxúria, a cobiça e a raiva; o sentimento que nos proporciona uma relação pessoal ou a sustentação que nos proporciona qualquer meio de vida; a morte temporária de qualquer processo mental; etc. Qualquer que seja a magnitude da experiência, um certo nível de pânico e de medo caracteriza a nossa relação com estas mortes e a morte.

 

1 e 2

O terror da vivência da morte alimenta ainda um ciclo de confusão que nos leva de volta ao primeiro e segundo nidanas. A avó cega tateando e a velocidade e intensidade do oleiro fazendo girar a roda fornecem o fundo difuso que prolifera no ciclo do sofrimento. Desta forma, a inércia da cegueira, da autocomiseração e dos padrões repetitivos nos projetam e continuam a gerir nossas atividades de momento a momento desde um tempo sem começo. Certamente se manifestará no futuro a menos que se aja no sentido de se por um termo. Ao constatarmos a verdade sobre a existência cíclica, podemos começar a desenredar, de uma vez por todas, nossos padrões de hábitos repetitivos.


As implicações

Como desenredar nossos padrões a partir da representação dos 12 elos? Observamos que a neurose momentânea, expressa através dos elos 8, 9 e 10, não é um momento isolado de dor que passará. Observamos o momento que surge e os dois fatores que se encontram na sua origem:
Temos o hábito de nos fazer sofrer e nos recusarmos a admitir este fato, representado nos elos 1 e 2;

Devido a este hábito, criamos a idéia fixa de um eu pessoal que confrontamos a um mundo externo e nossa conduta obra permanentemente para confirmar este eu, representado nos elos 3 e 7. Vemos também que, ignorada, nossa neurose presente (elos 8, 9 e 10) perpetuará este padrão de hábitos repetitivos e egocêntricos por um futuro longínquo (elos 11 e 12).

Numa primeira abordagem, a noção pode parecer muito deprimente. A Roda da Vida representa a completa claustrofobia com que nos defrontamos quando compreendemos o momento atual e os padrões enrustidos partidos de um contexto mais amplo. Para o praticante de budismo, contudo, a claustrofobia tem um poderoso efeito poderoso. Quando reconhecemos que o momentâneo é um portentoso microcosmo da totalidade dos padrões de sofrimento, com certa brusquidão somos imobilizados neste preciso momento presente. Não podemos nos evadir, impossível racionalizar, não existem culpados. Fazemos uma pausa, sofremos intensamente e observamos as muitas causas e condições que invocaram o pesadelo. É neste momento que estabelecemos a ligação com a origem interdependente, como falamos anteriormente. Instantaneamente sentimos que somos enormemente livres. Todos os padrões giravam ao redor da negação da situação e, enquanto meditamos, aceitamos o que colocamos tanto empenho negando, raia então uma nova compreensão.

A nova compreensão tem vários aspectos. Primeiro, constatamos que a identidade tão cuidadosamente defendida é desnecessária e supérflua. Não será mais preciso consolidar o ego. Resta observar a intensidade do que está ocorrendo e liberar estratégias e defesas. Não tendo um ego com que digladiar, estamos apenas aqui, testemunhando diretamente o que se passa. O prazer é prazer, a dor é dor, sentimos que a ameaça e a promessa estão fora de contexto.

Segundo, esta lucidez com que acabamos de nos deparar é radiosa e vibrante. O fato de que é inevitável nos permite senti-la intensamente, sem lucubrações. O passado e o futuro deixam de ser realidades para nós; existe apenas o momento presente e no momento presente a mente está em repouso. Sentimos o estado desperto que nos é inerente, sem a cobertura de confusão causada pelas emoções a que estamos viciados há tanto tempo. É uma experiência conhecida de muitos e não apenas dos praticantes de budismo. Em momentos de crise temos vislumbres de clareza e lucidez. É apenas antes e depois destes momentos que retornam o medo, a confusão e a luta para nos restabelecer. O praticante compreende esta vivência como sendo o surgimento da verdadeira natureza da mente a cultiva este estado mental durante a meditação. Assim, crises e obstáculos são considerados presentes pelo praticante de budismo. Não que não sejam dolorosos, porque são, mas é que a dor é o mestre, uma forma de nos relembrar a capacidade fundamental que temos de aceitar a vida sem diluições. Não precisamos nos defender de quem somos e tais situações nos oferecem a oportunidade de viver com gratidão todas as experiências por que passamos e o cotidiano passa a ser uma aventura.

 

Como diz Chogyan Trungpa (1978, p. 79)

“Se pudermos ir ao encontro do momento presente (tendrel) da coincidência presente tal como ela se apresenta, desenvolvemos enorme confiança. Começamos a ver que ninguém está manipulando a situação para nós, mas que podemos lidar com ela sozinhos. Desenvolvemos um sentido enorme de espaço, porque o futuro está completamente disponível.”

 

REFERÊNCIA:

 

BROWN, Judith Simmer. A Roda da Vida e os 12 Nidanas ou Elos. 03 dez. 2007. Disponível em: http://metamorficus.blogspot.com/2007/12/roda-da-vida-e-os-12-nidanas-ou-elos.html. Acesso em: 14 set. 2020.

terça-feira, 5 de maio de 2020

A ORIGEM DO MOVIMENTO HARE KṚṢṆA





Por Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda


O Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, o grande apóstolo do amor a Deus e pai do movimento de saṅkīrtana, adveio na cidade de Navadvīpa, na Bengala, Índia. Isto ocorreu em fevereiro de 1486, pelos cálculos cristãos.
 Pela vontade do Senhor, ocorreu um eclipse lunar naquele noite. É costume do povo hindu se banhar no Ganges ou em qualquer outro rio sagrado durante as horas de eclipse e cantar mantras védicos para purificação. Quando o Senhor Caitanya nasceu durante o eclipse, toda a Índia ressoava com o som sagrado de Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare / Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare.
Esses dezesseis nomes do Senhor são mencionados em muitos Puraṇas e Upaniṣhads, e são descrito como “Tāraka-brahman”, os nomes para esta era. Está declarado nos śāstras, as escrituras autorizadas, que o cantar sem ofensas dos santos nomes do Senhor pode liberar uma alma caída do enredamento material. Há inumeráveis nomes para o Senhor, tanto na Índia como em outros lugares, e todos são igualmente bons porque todos indicam a Suprema Personalidade de Deus. Mas porque estes dezesseis nomes são especialmente recomendados para essa era, chamada Kali-yuga, é melhor para as pessoas seguir o caminho dos grandes ācāryas, os professores santos que alcançaram o sucesso pela prática deste sistema.
A coincidência do aparecimento do Senhor com o eclipse lunar deixa claro qual seria a missão do Senhor. Essa missão era pregar a importância de cantar os santos nomes de Deus nesta era de Kali, ou era de desavenças. A era atual testemunha desavenças mesmo por coisas insignificantes. E, se tais práticas forem executadas sem ofensas, é certo e seguro que tais pessoas gradualmente irão alcançar a perfeição espiritual sem o esforço de terem de passar por métodos rígidos de yoga ou ascetismo.
Durante o saṅkīrtana, os eruditos e os tolos, os ricos e os pobres, os hindus e os mulçumanos, os ingleses e os indianos, a pessoa comum e o sacerdote, todos podem receber a vibração transcendental de Hare Kṛṣṇa através da audição, e a partir daí limpar a poeira do espelho da mente.
No Śrīmad-Bhāgavatam, está declarado: “Nesta era de Kali, as pessoas que forem suficientemente inteligentes irão adorar o Senhor e Seus associados através da execução de saṅkīrtana-yajña (sacrifício).” Desta forma, o Senhor Caitanya e Sua inauguração do movimento de saṅkīrtana não foram invenções, senão que apresentam a concretização do que é declarado nas escrituras reveladas, assim como o aparecimento do Senhor Buda, de Śaṅkara Ācārya, e todos os avatāras é predito na literatura Védica. E, para confirmar a missão do Senhor, todas as pessoas do mundo irão aceitar o santo nome de Deus como a plataforma comum para a religião universal da humanidade.
Assim, o advento do santo nome ocorreu juntamente com o advento do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu. Quando o Senhor estava no colo de Sua mãe, a criança imediatamente parava de chorar assim que as senhoras ao redor começavam a cantar o santo nome enquanto batiam palmas. Esta peculiaridade foi observada pelos vizinhos do Senhor com respeito e veneração. Às vezes, as jovens damas se divertiam fazendo-O parar cantando Hare Kṛṣṇa, Hare Rāma. Desde a infância, o Senhor começou a pregar a importância do santo nome.
Com dezesseis anos, Ele Se tornou o maior erudito de toda a Índia, conhecido como Nimai Pandita. Ele então casou-se com grande pompa e começou a pregar o movimento Hare Kṛṣṇa em Navadvīpa. Alguns dos brāhmaṇas ali logo ficaram invejosos e puseram muitos obstáculos em Seu caminho chegando a se queixarem d’Ele com o magistrado mulçumano [a Índia era dominada por um governo mulçumano na época]. O Kazi, como era chamado este governante, levou essas queixas a sério, e a princípio, alertou os seguidores do Senhor Caitanya a não cantarem o nome de Kṛṣṇa em voz alta. Mas o Senhor Caitanya pediu a seus seguidores que desobedecessem às ordens do Kazi, e eles continuaram com suas celebrações de saṅkīrtana como de costume.
O Kazi então enviou policiais que quebraram algumas mṛdaṅgas (tambores) durante o saṅkīrtana. Quando o Senhor Caitanya ouviu sobre isso, Ele organizou um movimento de desobediência civil na Índia – e pela causa certa. Ele organizou uma procissão de cem mil homens, com milhares de mṛdaṅgas e karatālas (címbalos de mão), e a procissão passou pelas estradas de Navadvīpa sem nenhum medo do Kazi.
Após um tempo, a procissão chegou à casa do Kazi, que fugiu para o andar de cima com medo da turba. Os homens ali reunidos exibam um temperamento esquentado, mas o Senhor pediu a eles que fossem pacíficos. Neste momento, o Kazi desceu, e ocorreu um belo diálogo sobre o Alcorão e os Śāstras Hindus.
O Kazi perguntou ao Senhor sobre o sacrifício de vacas, o qual é prescrito nos Vedas, e o Senhor respondeu que o sacrifício mencionado nos Vedas não é matança de vacas. Em tal sacrifício, um touro ou vaca velhos é morto para dar a ele ou ela uma nova vida pelo poder dos mantras védicos. Na Kali-yuga, entretanto, tal sacrifício de vacas é proibido devido à ausência de brāhmaṇas eruditos que possam conduzir a cerimônia. Na Kali-yuga, apenas a forma saṅkīrtana de sacrifício é recomendada para todos os propósitos práticos.
O Kazi foi convencido pela autoridade do Senhor Caitanya e tornou-se imediatamente um seguidor do Senhor. Ele declarou que, dali em diante, ninguém poderia colocar obstáculos no caminho do movimento Hare Kṛṣṇa.
Após este incidente, o Senhor começou a pregar e propagar o saṅkīrtana mais vigorosamente do que nunca. No decorrer do Seu trabalho de pregação, Ele costumava enviar diariamente todos os Seus seguidores, incluindo Śrīla Nityānanda Prabhu e Ṭhākur Haridāsa, duas figuras proeminentes do Seu grupo, para pregarem em diferentes partes. Eles iam de porta em porta e pregavam o culto do Śrīmad-Bhāgavatam, a ciência do amor a Kṛṣṇa. Um dia, quando estavam nas ruas, os dois se depararam com dois irmãos chamados Jagāi e Mādhāi. Nascidos como filhos de um respeitável brāhmaṇa, os irmãos haviam caído à mais desprezível posição devido à má associação. Eles eram pervertidos de marca maior, comedores de carne, caçadores de mulheres e criminosos.
Imediatamente, ao ficarem sabendo desses dois, Ṭhākur Haridāsa e Nityānanda Prabhu decidiram que, se eles pudessem ser libertados pelo santo nome, o Senhor Caitanya seria ainda mais glorificado. Com isso em mente, eles imediatamente se aproximaram dos dois irmãos, pedindo a eles que cantassem o santo nome de Kṛṣṇa. Mas os irmãos bêbados ficaram irados com isso, e atacaram Nityānanda Prabhu. Nityānanda Prabhu e Haridāsa Ṭhākur partiram rapidamente do local, e os bêbados os perseguiram por uma distância considerável.
No dia seguinte, Nityānanda Prabhu foi ver novamente os irmãos, mas, assim que se aproximou deles, foi atingido na cabeça com um pedaço de pote de barro, e o ferimento sangrou. Śrīla Nityānanda foi tão bondoso com eles que, ao invés de protestar contra seu ato hediondo, ele disse: “não importa que vocês tenham atirado essas coisas em mim. Ainda assim, eu peço a vocês que cantem o santo nome do Senhor”.
Um dos irmãos ficou estarrecido com este comportamento de Nityānanda Prabhu, e no mesmo instante, caiu a seus pés pedindo perdão por seu irmão pecaminoso. O outro estava tentando novamente feri-lo, mas Jagāi o impediu e implorou a ele que também caísse aos pés de Nityānanda Prabhu.
Enquanto isso, o Senhor, tendo ouvido sobre o ferimento de Seu devoto, correu imediatamente para o local determinado a matar a dupla, mas Nityānanda Prabhu O lembrou de Sua missão  a saber, libertar as almas mais caídas de Kali-yuga. Os irmãos Jagāi e Mādhāi foram, afinal de contas, exemplos típicos da população dos dias atuais. Por causa da intervenção de Nityānanda, e devido à sua própria rendição sincera aos pés de lótus daquele devoto puro, o Senhor Caitanya foi aclamado, e os irmãos foram aceitos como devotos de Deus.
Para este propósito de liberar a população caída de Kali-yuga, o Senhor Caitanya apareceu, e por Sua misericórdia sem causa, Ele nos deu o método simples de auto-realização  cantar o santo nome de Deus: Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare / Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. E Ele disse que não há outra maneira nesta era.
Quando o Senhor foi uma vez indagado pelo grande sannyāsī Māyāvādī, Prakāsānanda Sarasvatī, quanto a qual era a razão para o Seu desvio para o movimento de saṅkīrtana, ao invés de ocupar-Se no estudo dos Vedāntas-sūtras, como é o dever de um sannyāsī, o Senhor respondeu muito humildemente como segue:

A razão de Meu desvio do estudo do Vedānta para o movimento de saṅkīrtana é que Eu sou um grande tolo. E, porque sou um grande tolo, Meu mestre espiritual Me proibiu de brincar com a filosofia Vedānta. Ele disse que seria melhor para Mim cantar o santo nome do Senhor, e que isto me libertaria do enredamento material.
Nesta era, não existe religião além de glorificar o Senhor proferindo Seu santo nome, e esta é a injunção de todas as escrituras reveladas. Portanto, sob a ordem de Meu mestre espiritual, Eu canto o santo nome de Kṛṣṇa, e agora estou louco atrás de Seu santo nome. Sempre que Eu o recito, esqueço completamente de Mim; às vezes rio, às vezes choro, e às vezes danço como um louco. Eu pensei coMigo mesmo que Eu poderia ter enlouquecido com este processo de cantar o santo nome, e portanto, perguntei sobre isso ao Meu mestre espiritual. Eu disse a ele: 'Eu fiquei louco cantando o santo nome. O que isto quer dizer? Por favor Me informe'.
Meu mestre espiritual então Me informou que este é o verdadeiro efeito de cantar o santo nome, que ele produz emoções transcendentais, o que é uma manifestação rara. Esta emoção transcendental é o sinal do amor a Deus, a meta última da vida. O amor a Deus é transcendental até mesmo à liberação (mukti), e sendo assim, é chamado de o quinto estágio da realização espiritual  estando acima do estágio da liberação. O resultado real de cantar o santo nome de Kṛṣṇa é alcançar e estágio do amor a Deus, e foi bom que Eu tenha sido favorecido com tal benção.

Apesar de o Senhor Caitanya ser o próprio Kṛṣṇa, para nos dar exemplo, Ele Se apresentou como um grande tolo. Deus é pleno em seis opulências, incluindo todo o conhecimento, e portanto Ele nunca é tolo. Podemos, contudo, seguir o misericordioso exemplo do Senhor Caitanya e aceitar este canto com toda a determinação, e iremos dessa forma, alcançar a perfeição da vida, o amor a Deus. Está tudo ali. Nós só precisamos aceitar o que está descendo até nós na linha de sucessão discipular de Kṛṣṇa e do Senhor Caitanya.

REFERÊNCIA:
PRABHUPĀDA, A. C. Bhaktivedanta Swami. A origem do Movimento Hare Kṛṣṇa. In: O CANTAR DE HARE KṚṢṆA. Brasília: The Bhaktivedanta Book Trust, 2009. p. 12-15.

PINTURAS ESOTÉRICAS DE NICOMEDES GÓMEZ




En su condición  Martinista, Masón y Rosacruz, Nicomedes Gómez Sánchez plasmo sus inquietudes y conocimientos sobre la esencia misma del Ser atraves de  su obra más esoterica.
Cartagenero de nacimiento,  donde recibió clases de pintura del pintor Andrés Barceló, en la Real Sociedad Económica de Amigos del País en la popular calle del Aire.
Nació el 16 de noviembre de 1903, al estallar la Guerra Civil combate como oficial del Ejército del Aire del Gobierno de la República hasta el final de la contienda, pasando a Francia en 1939, donde establecería su residencia tras los terribles campos de concentración de refugiados.
El reconocimiento de su obra recibió numerosos premios y condecoraciones. En 1978 se le nombra Cartagenero del Año, y en 1979 el ayuntamiento lo nombró Hijo Predilecto de la ciudad.
El autor fallecería el 3 de agosto de 1983 recibiendo sepultura en el cementerio francés de Cambestany.

  

“EL ARCA DIVINA” (1959)


“LOS CUATRO JINETES DEL APOCALIPSIS” (1960)


“EL TRIUNFO DEL CORDERO”  (1960)


 “EL TECLADO CÓSMICO”  (1961)


 “LA ERA DE PISCIS (EL MESÍAS)” (1965)


 “LA GESTACIÓN DE ACUARIO” (1965)


“EL TEMPLO DEL HOMBRE O CONÓCETE A TÍ MISMO” (1965)


“PAZ EN LA TIERRA A LOS HOMBRES OE BUENA VOLUNTAD” (1967)


“GESTACIÓN DEL HOMBRE DE ACUARIO” (1965)


 “VIDA-LUZ-AMOR (I)” (1971)


 
“VIDA-LUZ-AMOR (II)” (1973)
  


“VIDA-LUZ-AMOR (III)” (1970)


“¿DIVINIDAD?” (1975)


“LA ESCALERA DEL CIELO” (1976)


“LA UNIDAD”


“CATEDRAL DEL ALMA”







  

quarta-feira, 22 de abril de 2020

QUAIS SÃO OS DIFERENTES ESTILOS ARQUITETÔNICOS DO TEMPLO BENGALI?






Por Arunava Sanyal

Houve quatro estágios principais de evolução arquitetônica em Bengala:
Até o século VI d.C. – estruturas Tri Ratha / Stupa budista / Panchayatana;
Séculos VI – XII – evolução dos templos Deul / influência da arquitetura Kalinga;
Séculos XII – XV – predominância de mesquitas / arquitetura islâmica;
Séculos XVI – XIX – arquitetura de templo de terracota.
Até o século XII, a arquitetura de Bengala era principalmente uma extensão da arquitetura de Kalinga / Orrisa. Não houve desenvolvimento significativo na arquitetura do templo bengali do século XII ao XV, devido à invasão muçulmana e à instabilidade política. Ela só ganhou sua identidade própria após o advento de Sri Caitanya e o renascimento do hinduísmo no século XVI. Desde então, várias estruturas de formas singulares foram concebidas em Bengala.
O Chala – que é o estilo mais comum dos templos bengalis – é basicamente influenciado pela cabana doméstica ou pela arquitetura vernacular de Bengala (telhados de sapé). Os templos Ratna são uma amálgama dos templos Chala e Deul. Os templos Dalan foram inspirados na arquitetura europeia, ou mais precisamente, no estilo arquitetônico neoclássico, que chegou à Índia com o advento da colonização.
Devido à escassez de pedra (nas planícies gangéticas) e às condições climáticas específicas (fortes chuvas etc.), a maioria dos templos bengalis é de pequenas proporções. Eles são construídos principalmente com tijolos de barro / argila, adobe (tijolo seco ao sol), terracota e argamassa de cal. Em alguns lugares, como em Bishnupur, pedras de laterita são usadas. No entanto, é óbvio que houve alguns grandes Deuls de pedra em várias partes de Bengala, mas a maioria foi destruída (durante a invasão islâmica) ou colapsou devido ao intemperismo.
Esta representação gráfica certamente ajudará você a entender os estilos de templos bengalis:


REFERÊNCIA

SANYAL, Arunava. What are the different types of Bengal Temple Architecture? Disponível em: https://www.quora.com/What-are-the-different-types-of-Bengal-Temple-Architecture. Acesso em: 17 abr. 2020.


PARA SABER MAIS

https://sthapatyasite.wordpress.com/
















quinta-feira, 9 de abril de 2020

DEZ CONSELHOS DE UMA MONJA DE CLAUSURA PARA VIVER NA “CELA” DE CASA







Sabem de confinamento e reclusão mais do que ninguém: as carmelitas descalças de Cádiz oferecem os seus conselhos baseados na sua experiência de vida aos que, agora, se veem obrigados a ficar em casa.

1. Atitude de liberdade

O mais importante é a atitude com que se vive, a interpretação pessoal que se faz da situação, a consciência de que não se trata de uma derrota. Paradoxalmente, esta pode ser uma oportunidade para descobrir a maior e mais genuína liberdade: a liberdade interior que ninguém pode tirar, e que procede da própria pessoa. Num contexto em que as autoridades “obrigam” a estar em casa, a liberdade consiste na adesão voluntária, sabendo que é por um bem superior. É livre aquele que tem a capacidade de assumir a situação porque quer fazer o correto. Não se está encerrado em casa, antes, optou-se por nela permanecer “livremente”.

2. Paz onde a alma se amplia

Olhe para dentro de si próprio, o espaço mais amplo para a pessoa se expandir e ser feliz está no seu coração. Não são necessários espaços exteriores, mas andar folgadamente no próprio mundo. Dê asas à criatividade, escute as suas próprias inspirações, e encontre a beleza de que é capaz. Talvez ainda não tenha descoberto que da paz da alma brota vida… a vida é criação de mais vida, comunicação de alegria e amor. Quando se acostumar a viver em si, já não quererá sair.

3. Não se descuide, a paz requer trabalho

Exercite virtudes que requerem concentração e autoconhecimento, essas que normalmente se descuidam quando se está ocupado nos mil e um afazeres “externos”. De como se encara as próprias emoções e pensamentos, da gestão dos sentidos e paixões, depende se se vive no céu ou no inferno. Observe-se e domine-se, porque se se deixar levar pelo medo, pela tristeza ou pela apatia, dificilmente se sairá delas, já que não há muitas evasões. Exerça disciplina sobre o seu coração: quando algum pensamento não lhe fizer bem, rejeite-o. Procure inclinar-se para tudo aquilo que note que lhe dá paz e alegria... a harmonia tem de trabalhar-se.

4. Ame

A questão de fogo destes dias será a convivência. Perante a crise causada pela pandemia as pessoas ficam mais suscetíveis e, inclusive, irritáveis. É preciso ser-se muito paciente e usar muito o senso comum. Somos diferentes, cada qual tem uma sensibilidade distinta por múltiplas circunstâncias. Aceite e respeite as opiniões e sentimentos dos outros. É muito normal, quando se está em casa, a tendência para querer controlar tudo… Procure não o fazer, seria causa de muitos conflitos e frustrações. Não dê importância às diferenças, potencie as coisas que unem. O único terreno que realmente lhe pertence é a sua própria pessoa: os seus pensamentos, palavras e emoções; não controle, controle-se. A partir do amor extrairá compreensão e empatia, vontade de dar e agradecimento ao receber. Respeite, acolha a fragilidade, desdramatize, viva e deixe viver.

5. Não mate o tempo

Nada poderá criar-lhe uma sensação tão grande de vazio e fastio como passar o tempo inutilmente. É um inimigo gravíssimo que lhe poderá roubar a paz, e até colocá-la em depressão. Faça um plano para estes dias, e tente vivê-lo com disciplina. Descanso e ocupação não são antagónicos, aproveite para descansar realizando atividades que a relaxem ou que estimulem um ânimo positivo. Dê tempo nas coisas simples: que o grão-de-bico se torne tenro, que o assado demore a ficar cozinhado… temos tempo! Mesmo que um guisado lhe leve duas horas, desfrute de o fazer, e empenhe-se em que as coisas que faz, por simples que sejam, tenham valor e uma finalidade. Nada de perder tempo sem sentido, “matar o tempo” é matar a vida.

6. Alargue as suas fronteiras

Quantas vezes se deixou de fazer o que se devia por falta de tempo. Pois bem, agora temo-lo! Esse livro que lhe ofereceram há três anos e que não leu, aquele que ainda não devolveu porque ficou pela metade. Se gosta de música, procure novos artistas, descubra novos géneros. Apetece-lhe uma viagem? Pense num país exótico e aprenda sobre a sua cultura e tradições… temos internet também para isso. Se é pessoa de fé e oração, talvez não saiba o que rezar porque já esgotou tudo o que sabia. Por que não experimenta a liturgia das horas? Descarregue-a no seu telemóvel; procure os escritos de algum santo, seguramente vai encontrar muitas coisas que lhe encherão a alma de novas luzes. Não se conforme com o que conhece e sabe… agora que há oportunidade, abra-se a novidades que lhe acrescentem sabedoria e a encham de alegria.

7. Para as mais sensíveis

Nem todos dominam as emoções de igual maneira. Haverá pessoas para quem, pela sua psicologia, lhes custará muito mais este confinamento do que a outras. As emoções não só provêm do interior; também aquilo que se vê, escuta, toca, etc. influencia. Por isso, é preciso ser-se seletivo com aquilo que se recebe do exterior, para evitar entrar em círculos viciosos que envolvam em desespero ou façam perder o controlo. Evite-se, na medida do possível: conversas pessimistas, discussões, más caras, excesso de informação, filmes de terror ou intriga, desordem dentro de casa. Como não há muitas evasões que façam mudar de “chip”, tudo o que entra no cérebro nele permanecerá mais tempo do que o habitual; por isso, é preciso ter cuidado para não se ficar obcecado, ou permitir aninhar uma emotividade negativa no interior. O excesso de ecrãs também é mau porque estimula em demasia e o cérebro, e provoca mais nervosismo. Há que dormir bem, mas em excesso pode causar a sensação de fracasso ou derrota. Um remédio muito bom para canalizar a energia e relaxar é dançar. Ponha boa música e divirta-se a dançar. Nada como rir e divertir-se para reiniciar o sistema interior.

8. Não está isolada

É importante compreender que não há motivo para se sentir só, pois não se está. O amor e o carinho dos teus continua, mesmo que o contacto físico se tenha distanciado. Esta é uma oportunidade para viver a comunicação a um nível mais profundo, mais íntimo. Fale com quem está em casa com tranquilidade, sem pressas, escute-os até que terminem, deixe que o diálogo faça crescer a confiança e as confidências construam cumplicidade. Diga aquilo que nunca tem tempo de dizer, conte o que sempre quis contar, fale de tudo e de nada, mas com carinho, que é o que chega à alma e nela se aninha. Responda àquela mensagem de Natal que não agradeceu, a carta que a emocionou e à qual estava a preparar uma resposta, àquele “e-mail” de uma velha amizade. Procure palavras com beleza, tente dar expressão aos seus sentimentos mais nobres… Fale com o coração e crie laços muito mais profundos com os seus. Descobrirá que a distância não é ausência.

9. Dia de reflexão

Para não se angustiar, também é conveniente procurar momentos de silêncio e solidão. Na organização do tempo para estes dias, inclua espaços de “oxigenação” individual. Quantas pessoas já alguma vez disseram: «Como gostaria de me retirar alguns dias para um mosteiro». Pois bem, a ocasião está aqui, em casa. Habitualmente as pessoas cansam-se por causa da aceleração das suas horas, como se a rotina diária não desse tempo para assimilar o que se vive. Esperamos mudanças substanciais na sociedade, «isto não pode continuar assim». Agora temos esta oportunidade para nos metermos num casulo como a lagarta que se converte em borboleta. Reflita, pense, medite… Que posso mudar em mim para ser melhor depois destes dias?... A separação das coisas que normalmente temos entre mãos ajudará a ver se realmente se está a pôr o acento naquelas que importam, em vez daquelas que podem ser secundarizadas, quais são as insubstituíveis, etc. Um bom discernimento para melhorar fará com que estes dias sejam de muito proveito. Homens e mulheres novos depois desta crise.

10. Reze

Só a oração (que é o vínculo de amizade com Deus) pode sustentar a vida em todas as situações, especialmente nas adversas. Oração, que como diria Santa Teresa, «ainda que a diga à sobremesa, é o principal». Orar é abrir-se a esse “Outro” que pode sustentar-nos quando se precisa de ajuda; mas também quando se está bem, orar é sustentar outros que precisam. É a experiência mais universal do amor. Ore, fale com Deus, as horas passarão sem que se dê conta: fale-lhe de tudo, Ele não se cansa de a escutar, desafogue-se com Ele quando necessitar, e, porque não?, deixe que também Ele se desafogue consigo, é o seu Pai, seu Irmão, seu Amigo. Exercite a sua fé e a sua confiança. Se deixou a relação com Deus no vestido da sua primeira comunhão, volte a experimentá-lo, agora há tempo e serenidade para conversar com Ele. Talvez não acredite porque nunca o experimentou. E se tentar?...

In Carmelitas Descalças de Cádiz
Trad.: Rui Jorge Martins
Vídeo: Luís Manuel/Comissão Diocesana da Cultura (Aveiro)
Imagem: TeleMakro Fotografie/Bigstock.com
Atualizado em 04.04.2020

REFERÊNCIA:

CARMELITAS DESCALÇAS DE CÁDIZ. Dez conselhos de uma monja de clausura para viver na “cela” de casa. Disponível em: https://www.snpcultura.org/dez_conselhos_de_uma_monja_de_clausura_para_viver_na_cela_de_casa.html#.XnV-CNP_Ni4.whatsapp. Acesso em: 09 abr. 2020.